- Área: 5000 m²
- Ano: 2003
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Fotografias:Cristobal Palma
Descrição enviada pela equipe de projeto. Nos solicitaram uma torre de vidro que albergasse tudo o que tivesse relacionado aos computadores da universidade.
A pergunta que a universidade nos fazia era se, agora, com os computadores, a maneira de ensinar vai mudar substancialmente, e, portanto, as tipologias arquitetônicas que usamos para espaços educativos também; perguntavam: ainda tem sentido falar de “salas” agora que estamos virtualmente conectados?
A tendência quando se trata de computadores é basear-se em uma crença, um pouco desmedida, de que vão mudar radicalmente nossas vidas. Eventualmente o fizeram e seguirão fazendo, mas queríamos poder questionar se, efetivamente, se produz alguma mudança. Nossa resposta se dividiu entre: sim e não.
Não muda, porque nada vai substituir a forma mais arcaica e efetiva de transmitir conhecimento de uma geração a outra, que é através de boas conversas entre pessoas (seja entre um mestre e um discípulo, ou entre estudantes) à sombra de uma boa árvore, tomando um bom café, ou encontrando-se casualmente em um bom corredor. Acreditávamos que a maneira mais convencional de ensinar estava garantida pelas normas (iluminação, visão, acústica). Por outro lado, o aprendizado informal não está garantido por ninguém. E pensamos que aí havia uma oportunidade de projeto.
Para isso pensamos que a base da torre poderia conformar-se por planos inclinados de madeira, para deitar-se entre os horários de aulas a tomar sol, ou na sombra da própria torre ou do parque, segundo a época do ano. O espaço de 9 alturas entre a torre de cimento e a de vidro, foi concebido como a magnificação da conversa de corredor. E, nesse sentido, não só nos parecia que não importava se a sala mudava ou não, senão que o que devíamos fazer era olhar tão atrás quanto fosse possível (em vez de para frente), em direção a formas primitivas de ser e estar.
O segundo problema consistia em que, fazer uma torre de vidro em Santiago implica assumir o efeito invernadeiro. O orçamento disponível não nos permitia comprar uma cortina de vidro que fosse capaz de resolver de uma só vez todo o problema (vidro duplo, face exterior refletiva, vidros pigmentados). E mesmo que pudéssemos pagar, uma pele de vidro obriga a um gasto muito alto em equipamentos de ar condicionado. E, por último, o vidro espelhado não nos atraía muito como material para a fachada.
Então, em vez de pensar em uma pele que fizesse todo o trabalho (resistir à intempérie, à chuva, à contaminação, ao envelhecimento, regular a luz e controlar as perdas y ganhos térmicos), que custaria US$ 120/m2, pensamos que seria mais econômico fazer várias peles, e que cada uma resolvesse uma coisa de cada vez. Assim, projetamos uma pele exterior de vidro comum, muito ruim para o controle térmico, mas excelente para resistir ao pó, à chuva e ao envelhecimento. Dentro dela, projetamos um edifício de fibrocimento, muito ruim para resistir a intempérie, mas muito bom desde o ponto de vista térmico. E entre ambos: ar.
Tínhamos que evitar que o efeito estufa que se produzia atrás do primeiro edifício de vidro, chegasse ao segundo edifício, de fibrocimento. Para isso, deixamos que o espaço entre os dois edifícios se comportasse como uma chaminé perimetral, que através da convecção, liberasse o ar quente. A pele de vidro não chega ao solo, deixando entrar as fresco pela base; um vento vertical, acelerado pelo efeito Venturi nas partes mais “acinturadas” da torre, sai por uma superfície equivalente na parte superior. A soma de cada uma dessas peles, que fazem uma coisa de cada vez, foi de US$90/m2, 30% mais barato que o produto de catálogo equivalente, o que nos permitiu entrar em custo.
Por último, estava o problema torre: a superfície com que contávamos era de somente 5000 m2. Por mais que reduzíssemos as plantas para obter uma proporção vertical, a forma resultante era “gorda”, ou de contextura robusta.
Então, surgiu a idéia de partir o edifício em dois, a partir do sétimo piso. Cada uma das partes resultantes foi construída usando perfis de alumínio de cores diferentes, praticamente sem espessura. Buscávamos que frontalmente o edifício fosse um único volume bicéfalo, mas que em perspectiva, dada a diferença cromática dos perfis, se pudesse diferenciar como duas torres, cada uma delas efetivamente verticais, que compartilhavam grande parte do seu corpo, como se fossem estruturas siamesas.